O que é alimentação regenerativa?
A alimentação regenerativa representa um novo paradigma na forma como produzimos e consumimos alimentos. Baseada nos princípios da agricultura regenerativa, essa abordagem busca restaurar e revitalizar os ecossistemas agrícolas, promovendo a saúde do planeta e da população a longo prazo.
Principais tendências da alimentação regenerativa:
- Cadeia de suprimentos e agricultura sustentável: conservação do solo, rotação de culturas e práticas agroecológicas.
- Alimentação à base de plantas: foco em ingredientes vegetais e substituição de produtos de origem animal.
- Sustentabilidade nos processos industriais: uso eficiente de recursos e redução de emissões.
- Economia circular: aproveitamento de resíduos agrícolas e subprodutos.
- Biotecnologia: desenvolvimento de cultivares mais resistentes a pragas e ao clima extremo.
- Inteligência artificial: otimização de processos produtivos, formulações e inovação em alimentos.
Em alinhamento com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) das Nações Unidas, a alimentação regenerativa contribui diretamente para a proteção ambiental, erradicação da fome, promoção da agricultura sustentável, acesso à energia limpa e redução das desigualdades.
Empresas do setor alimentício vêm reformulando suas cadeias de produção, adotando práticas mais sustentáveis, com foco na ética animal, rastreabilidade dos ingredientes e transparência com os consumidores.
Sustentabilidade e Inovação: Caminhos para o Futuro da Alimentação
No cenário atual, cresce o interesse dos consumidores por alimentos que respeitem os limites do planeta, com menor impacto ambiental e maior valor nutricional. Nesse contexto, dietas plant-based e orgânicas ganham cada vez mais espaço, impulsionando o desenvolvimento de novas tecnologias e ingredientes.
A dieta plant-based prioriza alimentos de origem vegetal — frutas, legumes, leguminosas e oleaginosas — e pode incluir pequenas quantidades de produtos animais. Produtos como hambúrgueres vegetais, “leites” de castanhas e maioneses sem ovos vêm se popularizando como alternativas sustentáveis e saborosas.
Empresas vêm investindo no desenvolvimento de proteínas alternativas, como as derivadas de plantas), insetos comestíveis e até proteínas cultivadas em laboratório. Internacionalmente, o cultivo da fava (Vicia faba) na Europa, especialmente na Alemanha, destaca-se como exemplo de prática agrícola sustentável alinhada aos princípios da agricultura regenerativa. A planta contribui naturalmente para a saúde do solo ao fixar nitrogênio do ar, reduzindo a necessidade de fertilizantes químicos e beneficiando culturas subsequentes. Agricultores certificados por iniciativas como o Farm Sustainability Assessment (FSA) adotam métodos que promovem a biodiversidade e a conservação ambiental. Além disso, o processamento da fava por meio de fracionamento a seco representa um avanço tecnológico que reduz o consumo de água e energia, reforçando o compromisso com a produção de ingredientes mais sustentáveis e eficientes.
Uma pesquisa conduzida pela ProVeg International, em parceria com o Good Food Institute (GFI) e a Innova Market Insights, revelou que cerca de 50% dos brasileiros reduziram o consumo de carne nos últimos anos, motivados por preocupações com a saúde, o meio ambiente e o bem-estar animal. O estudo também mostrou que há grande abertura para experimentar produtos à base de plantas, especialmente entre os consumidores mais jovens e conectados às causas ambientais. Esse cenário impulsiona o desenvolvimento de novas alternativas proteicas que conciliem sabor, acessibilidade, inovação e perfil nutricional adequado.
Um dos principais desafios está em equilibrar palatabilidade, aceitação do consumidor, custo e valor nutricional desses novos produtos. Para isso, a inteligência artificial tem sido aliada no design de formulações inovadoras — como bebidas vegetais com sabor e textura semelhantes ao leite, utilizando ingredientes como fibra de chicória, suco concentrado de abacaxi e de repolho para atingir funcionalidade e perfil sensorial desejados.
A Alimentação Regenerativa no Brasil
O Brasil, com uma das maiores áreas agrícolas do mundo e uma biodiversidade rica e única, possui enorme potencial para liderar a transição para uma produção alimentar mais sustentável. A colaboração entre academia, indústria e sociedade é essencial para acelerar essa transformação.
Algumas iniciativas nacionais de destaque incluem as da Nestlé, Mahta e NotCo, que já implementam práticas regenerativas em suas cadeias de valor. Casos como o cultivo sustentável de açaí no Pará e de amêndoas de cacau na Bahia mostram que é possível unir conservação ambiental, renda para comunidades locais e produção eficiente de alimentos.
Apesar dos desafios — como a resistência à mudança e os altos investimentos iniciais —, os benefícios da alimentação regenerativa são claros e promissores, tanto para o meio ambiente quanto para as futuras gerações.
Quer saber mais?
What Consumers Want | ProVeg International
Fava é nova aposta da indústria plant-based na Europa | Agronegócios | Valor Econômico
Portal A|I – BENEO inaugura nova planta de processamento de leguminosas
(PDF) Sustainable diets: The interaction between food industry, nutrition, health and the environmenthttps://www.cnabrasil.org.br/noticias/cultivo-de-acai-no-para-e-exemplo-de-producao-sustentavel
https://www.nestle.com/sites/default/files/2021-09/regenerative-agriculture.pdf
Sobre a autora:
Leila Hashimoto é nutricionista e doutora em Ciências pela Universidade de São Paulo. Atua como coordenadora da pós-graduação de nutrição clínica aplicada à gastroenterologia do Instituto LG/PUC-Goiás. Ministra aulas e palestras e atua em consultório nutricional.